quinta-feira, 13 de outubro de 2011

quem inventou a poesia?
(um texto escrito em um dia em que acordei com uma vontade enorme de promover insurreições sentimentais..)

existem coisas que não podem ser ditas em versos. talvez a maioria. quem sabe as verdades mais fortes. verdades que versos não possam fingir, mentir, ou fazê-los querer ser o que não são. verdades que  façam os versos serem apenas versos, limitados, muitos cheios de um vazio comum, tomados pela incrível arte de liquidar em um só soneto os sentimentos mais originais. abaixo a toda essa poesia. a esse discurso ensaiado que sempre diz a mesma coisa. a esse dizer comedido que tem medo de se mostrar. Abaixo as ilusões ofertadas feito flores perfumadas e que não tem vida além da linha. Abaixo os versos caricatos da mesma canção de ontem. a qualquer eu te amo efêmero e mistério óbvio e desassossego falso e subjetividade exagerada que mascara o que poderia ser simples. Abaixo as palavras doces que não sabem o que dizem. a escrita oca coberta por um pele de genialidade. a falta de cores da imaginação pálida. Abaixo todos os gestos que morrem sem serem ditos. viva a prosa. viva os mesmos intentos de ontem que hoje vestem roupas novas. viva as palavras tolas que escondem uma paixão profunda. viva a doçura de um sorriso bem dado. viva a imensidão do olhar. viva a porta escancarada para as pessoas verdadeiras. viva as pequenas coisas que se tornam grandes e racham o solo das nossas convicções. viva tudo aquilo que sussurra idéias novas à cabeça. viva a dose exata do que nos faz feliz. viva o saber o que se quer mesmo quando se pensa que não sabe. viva os detalhes bobos que nos fazem lembrar do que vale a pena. viva os sentimentos ousados. viva o beijo e o abraço e o embaraço que esmagam qualquer palavra. quem inventou a poesia? quem disse que poetar é preciso? quem disse que a poesia é o alimento do amor e das demais coisas que se ousa sentir? a poesia é a janela por onde o poeta joga suas feridas velhas, os seus dramas inacabados, e se joga além dela, como um barquinho na tempestade suplicando para ser tragado pela tormenta, e então ele ter um motivo a mais para ser vítima e algoz do próprio enredo. digo mais uma vez: a forra com essa poesia e com os seus suspiros fajutos que se pretendem ardentes. eu quero a prosa. uma prosa feito pão todas as manhãs. uma prosa feito andar de bicicleta, vento no rosto, o sabor do sorvete preferido, o mundo além.. .de um verso. uma prosa para andar sob sóis inteiros sem o destino do escape mais fácil. uma prosa pra dançar, pra correr na chuva, pra pegar na mão de quem se ama, pra perceber o tamanho que a vida pode ter. e quanto a essa poesia, uma gaveta trancada e chaves em alto mar, até o dia em que ela diga algo que eu ainda não saiba.

Um comentário:

  1. Boêmias, estou apaixonado por este texto. Lindo, inspirado demais. Parabéns, adorei as insurreições sentimentais!

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